BIOGRAFIA - ESCRITOS
Carta a sua prima HERMINIA VALDÉS OSSA
Teresa tinha um amor fervoroso pela eucaristia. Nesta carta, ela anima a sua prima Herminia (que chama com carinho "Gordinha") à comunhão diária.
22 de julho de 1919
Que o Espírito Santo esteja na alma de minha Gordinha querida:
Como és mimada de nossa Madrezinha, porque o és minha também, deu-me licença para que te responda logo, sobretudo para agradecer as coisas que mandaste. Que Deus pague com acréscimos tua caridade para com estas pobres carmelitas, que vivem só de esmolas. Podes acreditar que se comemos é porque Deus provê nossa depensa miraculosamente, pois neste conventinho não se conhecem fundos. Nada mais temos senão Deus. Para que querermos mais? Podes contar com as orações de nossa Madre e de todas as nossas Irmãzinhas, que por sua santidade têm as portas do céu e do coração de nosso Deus abertos. Quanto a minhas pobres orações, já sabes que são tuas e que jamais posso esquecer-te porque te quero muito.
Que o bom Deus te livre dos passeios. Tens de ser muito agradecida a Ele e, já que te livra do mundo, deves dar-te a Ele: comungar todos os dias. Quando terei esta grande alegria de saber que minha Gordinha, antes de iniciar seus estudos, vai receber nosso Senhor que a está esperando desde uma eternidade, já que Ele sabia as sagradas hóstias que consumirias? Oxalá minhas palavras não caiam em terreno árido, e que em tua próxima carta me digas que te unes a mim diariamente na comunhão. Para mim é inconcebível que, tendo ansiado por ser feliz, não busques Jesus. Depois de comungar temos tudo, porque temos Deus, que é nosso céu no desterro. Dir-me-ás que não sentes nada dessa felicidade. Mas eu te pergunto como te preparaste. Tomaste conhecimento da grandeza de Deus e do amor infinito que te manifesta ao reduzir-se a hóstia? Quando comungares reflete sobre o que vais fazer: todo um Ser eterno, que não necessita de ti para nada, visto que é todo-poderoso, um Ser imenso que está em todo lugar, um ser infinito e majestoso diante do qual os anjos tremem, com toda a sua pureza, este Ser vem cheio de infinito amor a ti, pobre criatura, cheia de pecados e misérias. Entre tantas pessoas que existem no mundo, és tu honrada com a visita desse grande Rei. Mais ainda: para que te aproximes a recebê-lo, Ele deixa seu esplendor e, sob a forma de pão, do mais simples dos alimentos, se une a sua pobre criatura, para tornar-se uma mesma coisa com ela. E Ele está ardendo em infinito amor, e ela permanece fria e indiferente, sem agradecer tão notável favor.
Perdoa-me meu sermão; mas te quero tanto e desejo que sejas muito boa; e, para isso, deves comungar. Quando, um dia, nos encontrarmos no céu, que pela misericórdia de Deus obteremos, agradecerás por te ter pedido tanto a comunhão diária, porque compreenderás que nela reside o germe da vida eterna...
Como vais em teus estudos de piano? Em que ano já estás? Continuas tuas aulas com o Sr. Donoso? Conta-me tudo, porque me interessa. Dize-me tudo o que quiseres em tuas cartas. Nossa Madre sabe guardar segredos, e é como se nada soubesse. Tenho plena confiança nela. Não tenho segredos para com minha Madrezinha, pois é uma santa que não se espanta com nada, e te quer muitíssimo.
Peço-te dizer a Eli que me perdoe por não ter respondido sua cartinha, mas que, em troca, rezo por ela. Muito me alegrou o que me dizes de teu papai. Já é um passo a mais. Oxalá consigamos a confissão. Saudações carinhosas para minha tia tão querida e para teu papai e os garotos; um abraço para a Eli e outro para minha Gordinha.
Tua indigna irmã em J.M.J.T.
Teresa de Jesus
Carmelita
Si vires a Carmen, dá-lhe lembranças, dizendo que no dia 16 não a esquecerei em minhas pobres orações. Alegro-me muito porque se gostam. Saudações a Juana e Elvira.
(Carta n°117, tradução © Edições Loyola)